Quinta às 9: “expressões da identidade e da história”

A terceira sessão do ciclo “Quinta às 9”, promovido pela candidatura de Maria das Dores Meira, realizou-se no passado dia 17 de julho e teve como tema “Expressões da Identidade e da História”. O encontro decorreu num ambiente intimista e acolhedor, reunindo especialistas e personalidades da cultura, da arte e da medicina para um diálogo vivo sobre o papel da criação artística, da memória coletiva e do património na construção da identidade de Setúbal.

Com moderação de Helena Almeida, reconhecida figura da rádio regional e nacional, o debate contou com a presença de Fernando António Batista Pereira, professor universitário e curador de artes, João Duarte, escultor e professor de Belas Artes, Ricardo Romero, artista urbano, e Dr. José Poças, médico e escritor.

Fernando António Batista Pereira destacou a importância da valorização da história local e o papel central que os museus e as coleções desempenham na preservação da memória coletiva. Referiu-se à recente inauguração do Museu de Setúbal, lamentando que esta tenha ocorrido sem a presença de Maria das Dores Meira, principal impulsionadora do projeto e com a sua construção por terminar. Salientou ainda o potencial nacional e internacional do novo espaço museológico, que integra três narrativas entrelaçadas: a história do edifício, a história da cidade e a história global da arte, sendo esta última enriquecida por doações de acervos particulares.

João Duarte abordou a sua trajetória artística, marcada pela escultura e, em particular, pelas suas emblemáticas “gordas”, figuras femininas que se tornaram ícones da cidade. Destacou a liberdade criativa que encontrou em Setúbal para desenvolver a sua linguagem escultórica no espaço público, sublinhando a importância do apoio institucional a formas artísticas que rompem com o convencional.

O médico, Dr. José Poças, apresentou uma perspetiva original e ambiciosa, propondo a criação de três museus em Setúbal que valorizem o património histórico, científico e artístico da cidade. Entre as ideias destacam-se um museu dedicado ao Tratado de Tordesilhas e à expansão marítima, um museu das pestes e da intolerância religiosa, com base nas antigas instalações da gafaria, e um terceiro espaço centrado na obra do pintor João Vaz, explorando a relação entre arte e ecologia. Para o médico e escritor, estes projetos seriam âncoras culturais para uma candidatura futura de Setúbal a Capital Portuguesa da Cultura.

Ricardo Romero trouxe a visão da arte urbana como expressão direta da identidade coletiva. Com um percurso que começou no graffiti e evoluiu para a escultura, o artista refletiu sobre o impacto da arte na rua e o seu papel na criação de um diálogo vivo com os cidadãos. Referiu ainda a importância de reconhecer e apoiar os artistas que trabalham diretamente com os territórios e as comunidades, contribuindo para a valorização da cidade.

O “Quinta às 9” voltou assim a afirmar-se como um espaço de pensamento e escuta ativa, onde se cruzam experiências, preocupações e ideias que apontam caminhos para uma Setúbal mais culta, mais participada e mais conectada com a sua história e identidade. A candidatura de Maria das Dores Meira continuará a promover encontros que estimulem a reflexão coletiva e envolvam a comunidade nos grandes desafios do presente e do futuro.

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